13.7.11

Jeff Buckley – Grace

 

Por: Andréia Loureiro

Jeff Buckley

 

Disco: Grace (1994)

 

Falar de Jeff Buckley após passados 14 anos de sua morte, talvez recaia num lugar comum. Ainda assim, o que se pretende fazer aqui é mais uma pequena e simples homenagem, mesmo estando ciente de que tudo o que se possa falar sobre a sua obra não seja capaz de expressar a beleza e a grandeza que elas imprimem.

Jeff Buckley, dono de uma voz singular, intenso, ousado, prolonga a voz até limites incomuns. O que dizer dos gritos dilacerantes? Demonstra grande domínio quando consegue usar falsetes com propriedade, como nenhum outro. Jeff emociona, toca fundo. Canta com a alma. Não dá pra ficar indiferente quando se ouve uma de suas músicas.

Apesar dos lançamentos póstumos, iremos nos ater ao único álbum lançado em vida, Grace, de 1994. Que é, sem dúvida, uma preciosidade, daquelas que poderiam ser guardada em caixinhas de jóias. Em um álbum curto, Jeff expressa a sua genialidade de maneira impressionante. As 10 faixas nos envolvem numa aura melancólica, formando um conjunto angustiante e ao mesmo tempo belo.

A matemática de Grace é mais fácil de ser equacionada, quando se compreende que é um álbum que fala, essencialmente, de amor, profundamente sentimental. Jeff nos mostra que viver não é fácil, amar não é fácil. Se ele vivenciou as adversidades de quem se propõe a enfrentar esse universo, não se sabe. Mas o fato é que as verdades das letras nos desconcertam.

Na primeira música Mojo Pin, Jeff começa sussurrando nos nossos ouvidos, os instrumentos apenas acompanham, a voz é o elemento central. Talvez seja a música em que ele demonstre o seu poder vocal em todas as variações... Ageless, ageless /

I'm there in your arms.

Grace vem na seqüência, em meio aos belos arranjos, a letra nos fala da morte, de quem se entrega a ela sem medo. Sentimos que é um despedida... Oh my love / And the rain is falling and i believe / My time has come / It reminds me of the pain / I might leave / Leave behind... Ficamos sem fôlego... Ah Jeff...

Last Goodbye é mais radiofônica, por ter sonoridade mais fácil de ser apreendida, embora seja dolorosamente triste. Foi o único hit do álbum. Fala da dor de quem ama pelo fim inevitável. Jeff canta… Kiss me, please, kiss me / But kiss me out of desire, babe, and not consolation / You know, it makes me so angry 'cause I know that in time / I'll only make you cry, this is our last goodbye… temos a consciência de que não há mais nada a ser feito.

O álbum possui três covers Lilac Wine, Hallelujah e Corpus Christi Carol, alguns críticos dizem que as músicas conseguem ser até melhores que as originais. Destaque para a etérea Corpus Christi Carol, onde Jeff nos eleva com as suas nuances vocais.

So Real é mais vigorosa, a sonoridade grunge torna a canção mais acessível. Jeff canta sobre amor e as temíveis ilusões... oh... that was so real.

Chegamos em Lover, you should’ve come over, balada extremamente linda e desconcertante, pela interpretação, pela letra. Nos deixa sem chão... Talvez eu seja jovem demais pra impedir que um bom amor dê errado/ Oh... meu amor, você deveria mudar de idéia/ Porque não é tarde demais...

Suspiramos...

Eternal Life, um grunge que soa despretensioso, sem o ser. Entre guitarras distorcidas Jeff, mais enraivecido, grita por respostas... There's no time for hatred, only questions/ What is love?/ Where is happiness?/ What is a life?/ Where is peace?/ When will I find the strength to bring me release?

Dream Brother finaliza o álbum. Jeff nos compreende... I hear your words and I know your pain. É uma música misteriosa, com mensagens ainda a serem desvendadas... Cause they're waiting for you like I waited for mine/ And nobody ever came.

Apesar de Grace não ter se tornado um grande sucesso comercial, foi um marco na música dos anos 90. Influenciou vários músicos como Thom Yorke, Elliot Smith, Chris Martin, sendo reverenciado, também, por outros renomados como Bob Dylan e Bono Vox.

O álbum pode ser melhor sentido quando se está ouvindo sozinho, sem resistências. São músicas feitas com a alma, para a alma. Acompanhado por arranjos magistrais, Jeff se entrega, consciente e confessional, como se sentisse intimamente as verdades impressas em cada letra.

Sem dúvida, Grace é uma obra-prima do rock.

A vida é apenas um sopro. Imprevisível também. Como saber o que nos espera amanhã? Nosso belo amigo desapareceu repentinamente nas águas do Wolf River, em maio de 1997.

Deixou um pequeno grande presente, para ser absorvido pelo espírito e guardado no coração.

Brindaremos com vinho em seu nome.

Thanks Jeff!

 

Para ouvidos entorpedidos por: Tim Buckley, Nick Drak, Thom Yorke, Leonardo Cohen, trovadores Solitários.

 

Andréia Loureiro: Arquiteta, tem a música como sua companheira, resenhista do Pontos Flutuantes e minha amiga.

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2 comentários:

Manuel Pitt disse...

Andreia tem sensibilidade e objetividade no ponto certo!
que venham mais resenhas!

Lirios disse...

To realmente impressionada com as resenhas dessa moça (Deia para os intimos,rss). Concordo com vc Manuel, é de muita sensibilidade o modo como ela vai nos mostrando o sabor do som, maravilha!!Deia, escreva mais, estamos esperando!