8.6.10

Ellen Allien - Dust


Ellen Allien

Disco: Dust (2010)


O ideal da música eletrônica, em seu princípio, sempre teve um tom romântico. Transmitir sensações humanas usando dos instrumentos mais robóticos possíveis. A sensação de dirigir por uma estrada em Autobahn, a sensação de erotismo nas basslines sintetizadas da era disco, até a sensação de viagem espaço-temporal do space disco escandinavo hoje em dia. O grande desafio de um artista eletrônico se encontra em transformar o que, em outras situações, seria somente ruído (não é, Matthew Herbert?) em alguma coisa dotada de sentimento.

Inspirada pela efervescência de uma Berlim reunida, Ellen Allien é uma das artistas que melhor soube lidar com esse desafio na última década. Seus álbuns consistentes representam a cidade e seus habitantes com uma personalidade ímpar (seu primeiro álbum se chama Stadtkind - "filha da cidade" em alemão - e seu fantástico segundo álbum, Berlinette). Dentro desse panorama, Ellen Allien fala de pessoas, de sua relação com a tecnologia e o ambiente urbano, do medo do futuro e de como esse futuro pode ser. Se Björk perdesse a voz e fosse deixada sozinha numa sala com um sintetizador e um sampler, esse seria o tipo de música que ela faria.

Depois da instrospecção quase impenetrável de Sool, de 2008, no qual ela construiu soundscapes de um mundo pós-apocalíptico e compôs as músicas mais minimalistas de sua carreira até agora (e isso é dizer alguma coisa se considerarmos sua obra), ela retorna em 2010 com esse Dust. Dust não é, nem foi concebido como, uma antítese de Sool, mas o é em muitos aspectos. Primeiro, porque enquanto Sool abriu um grande abismo entre a música de Allien e a pista de dança, Dust trata de ligá-los novamente. Além disso, que me consta, a única coisa "humana" em Sool era o vocal de "Frieda", uma balada triste quase no final daquele cd. Dust é muito mais brincalhão nesse sentido, a ponto de ter uma ou duas músicas com base numa guitarra acústica.

Brincalhão, é claro, nos termos de Allien, é ser experimentar sem perder de vista as pistas, ambiente onde essas músicas deveriam, primeiramente, ser escutadas. A artista oferece isso de sobra aqui. "Our Utopie" abre o cd com uma linha de baixo contagiante, um sintetizador upbeat e Allien cantando por cima de tudo "the sky, the taste, our utopie/we count one, two, three/and we are still here". "Flashy Flashy", a faixa seguinte, flerta ainda mais com a cultura feel-good, repetindo seu título por cima de uma batida quase electroclash.

Sool foi tão sisudo que esperava-se que, para balancear, Dust acabasse sendo seu disco mais pop. O palpite foi certo, mas longe de prejudicá-la, ele mostra o trabalho mais multifacetado de Allien desde Berlinette. É definitivamente seu álbum menos "berlinense" - não há aqui nada que lembre o tom épico de "Come", faixa que abria seu disco de 2005, Thrills - o que abre espaço para bongôs aparecerem em "Huibuh", por exemplo. Não é perfeito, mas Allien é o tipo de artista que faz uma música tão centrada em sua realidade que nos faz relevar alguns casos de indulgência (como a faixa "My Tree", que é totalmente dispensável). Logo, esperar um álbum perfeito é sem sentido. O caráter humano, demasiadamente humano da obra de Allien vale mais do que perfeição. Romântico, não?

Capa

Texto Encontrado em : Opperaa

Link: Download (link encontrado em blog UpBeatz)

Para ouvidos entorpecidos por: Flying lotus, Floating point, Apparat

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