2.1.10

Crítica / Lindstrom & Prins Thomas - II

 

lindstrom & prins thomas

 

Easy listening, baleárico, melódico e disco chapante. Chame como quiser, mas o segundo disco da dupla norueguesa Lindstrom & Prins Thomas, II, não é nada EASY listening... São oito faixas de quase uma hora e meia (as duas últimas tem quase trinta minutos), orgânicas na pegada jam session do estúdio que ambos dividem na Noruega há cinco anos, com uma construção mais espacial do que cinematográfica (gosto do termo "background music"), onde a concepção de disco- e space - é mais uma abstração entre tantos efeitos, bongos e xilofones saturninos.
Em II há toda uma cadência psicodélica oriunda do krautrock: viajandona, experimental em seu compasso de pequenos e constantes acontecimentos sonoros que se desdobram minuto em minuto, fazendo com que as faixas - principalmente as compridas - tenham até quatro atos diferentes.

"Prins, skal vi prøve nå?"

"Cisco" abre com bongôs e o bass funky preguiçoso característico de ambos, pipocando lá na frente - sem perder a compostura - num engraçado synth latino. E a lembrança do primeiro disco (2005), que soltou uma renca de hits, fica com as explosões majestosas de synth, Moog debatendo-se numa nebulosa revirada pela calda de um cometa musical - grande paradoxo essa idéia interplanetária, já que não há som no vácuo do espaço.
Outra sensação que remete ao krautrock em II é a progressão um pouco obscura, dada por certa constância da progressão orgânica: imagine você pensativo, a cabeça encostada na janela do carro, viajando por dentro de um túnel. As construções de Lindstrom e Prins Thomas são assim: expressas, cheia de elementos no contra-fluxo e barulhos esquisitos, sempre um zumbido de pressurização e velocidade ao fundo. "Rothaus" ruma desta forma por nove minutos, só quebrada por pratos de bateria que desentopem o ouvido. Até que entra a terceira faixa, e tudo muda (lembre-se, este disco só tera algum sentido com várias audições e dedicação, ele não é imediatista).

UM BOLERO NO VÁCUO SONORO DO ESPAÇO


"For Ett Slikk Og Ingenting" chega mansa, num bolero de piano e grave, mistura de new age, Ray Connif e psicodelia disco. Ouvindo em sequência, é o momento em que mais se percebe algum turning point, uma variação no disco. Em entrevista à XLR8R, Prins disse que foram gravadas outras oito músicas, que não foram lançadas porque seria "demais". Mas elas já estão sendo lançadas como EPs (ouça "Tirsdagsjam" no MySpace). A coerência e a própria narrativa musical é construída aqui mais pelo ouvinte do que pelo artista, por todos os motivos e descrições já listadas..

Lá pelo meio da saga duas faixas marcam o ápice do ritmo, "Skal Vi Prove Naa" e "Rett Pa", comprovando que a cadência de orgânico parece ser calibrada com o aquecimento de seus músicos. É de se lamentar que ambos produtores não estão muito entusiasmados em levar esta apresentação aos palcos (trabalhos paralelos e fuga de turnês mundiais por conta da família), pois seria um show perfeito para eventos como TIM Festival, Big Chill ou Sónar by Day, por exemplo.
Com II, Lindstrom e Prins Thomas fazem bem em desmistificar sua música do blablablá space disco, transmutando bases, instrumentos, efeitos e sensações em miscelâneas que são, vamos combinar, difíceis de descrever. É justamente como a boa composição sonora está rumando nesse fim de década pós-pós-moderno, com as referências diluídas e sempre pinceladas: neste caso, uma sensação setentista prog rock, climas cafonas de música eletroacústica orquestrada e romântica, downtempo...

Mas, como dito, não é um álbum fácil, que seria mais, hm, pleno se houvesse alguns vocais. Como na faixa sete, "Note i Love You + 100", que seria uma das baladas do ano se cantada. E "Gudene Vet + Snutt", que lembra a versão do The Field para "Everybody's Got to Learn Sometime", e poderia ter os agudos de alguma neo-Kate Bush inglesa. E se você sentiu falta do galope dançante das produções mais para pista da dupla (It's a Feedelity Affair de Lindstrom; remixes e o selo Full Pupp de Prins Thomas), não se preocupe.
É só aguardar por mais uma banda, remix, parceria, coletânea ou disco dessa dupla que é das mais versáteis da atualidade eletrônica, e que estão ficando cada vez mais indecifráveis.

lindstrom-prins-thomas

Capa: II

TEXTO ORIGINAL ENCONTRADO em: Rraurl

 

 

Para ouvidos entorpecidos por: Klaus Schulze, Patha Du prince, Ellen Allien

 

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