15.6.11

Radiohead - 10 de anos de AMNESIAC

No dia 04 de Junho de 2001 o Radiohead lançava seu quinto rebento de estúdio, um dos discos mais instigantes da nossa geração, desapontava fãs da fase mais rock da banda mas continuva as explorações psicodélicas do seu irmão de 2000.

 

"Eu acho que eles são gêmeos separados no nascimento, realmente," diz o baixista Colin Greenwood.

 

Amnesiac é o disco que mais ouvi até e hoje e sempre soa novo, futurístico, as vezes insuportável, hermético até os ossos, Yorke afirma que é como um rio do esquecimento para memórias que tendem a deixar cicatrizes. Ou como achar um baú debaixo da cama e encontrar mapas, fotos antigas, onde temos a sensação de uma estranha nostalgia.

 

Quando ouvi pela primeira vez os beats quebradiçamente metálicos de Pack Like Sardines In A Crushed Tin box, tive a certeza que nunca tinha ficado tão fascinado com uma banda contemporânea quanto fiquei naquele instante. A descida em queda livre de um penhasco rumo ao rio do esquecimento de Pyramid Song é uma das obras surrealistas mais soberbas da nossa geração. Mas Amnesiac não veio pra agradar. Ele pode ser áspero, sufocante, quem tem a melodia clássica com refrão como seu padrão de qualidade, encontrará no disco uma antítese. É um disco que não se deixa compreender facilmente, é curto, quando você começa a pensar que está desvendando seus quebra cabeças, ele termina num Jazz embriagada com cores marcianas em Life Glasshouse e te obriga a vomita-lo ou voltar a estaca zero.

Jazz é uma das bases para a construção minimalista do trabalho, ele junta-se a obsessiva fascinação de Thom por eletrônica cabeçuda experimental e a aproximação de Jonny das orquestrações incomuns de Pedenrick. Soma-se a isso a influência do krautrock. Os britânicos realizaram uma ousada e instigante ruptura com sua geração, a linha definitivamente rock estava superada e um percurso pelas profundezas da alma humana em experimentações desenfreadas chegava em seu pico, Radiohead em Amnesiac é uma banda no auge da sua inovação.

 

10 anos depois, o disco permanece uma incógnita. Viciante para alguns, intragável para outros. Amnesiac é um dos discos mais singulares já lançados por uma banda de rock. Sua textura impressiona, aliando uma técnica apurada, lapidada com instrumentações carregadas de linhas, efeitos, tocados como se eletrônico fosse, capaz de confudir o ouvinte mais superficial que choca-se com camadas e mais camadas de devaneios de arranjos por vezes esquizofrênicos.

Há eletrônica mas essa alia-se há construções de guitarras soando como rios fluindo em nossas mentes, como os dedilhados de Knives Out ou a base de guitarra arrastada no jazz space de Dollars Cents ou até nos riffs perturbadores de I Might Be Wrong, um verdadeiro hino da banda. Um disco com fluidez eletrônica que na verdade é orgânico, como um embrião se debatendo numa capsula rumo ao esquecimento para uma nova vida.

 

Yorke disse:

"Eu li que os gnósticos acreditam que quando nascemos somos obrigados a esquecer de onde viemos, a fim de lidar com o trauma de chegar nesta vida. Eu pensei que este era realmente fascinante. É como o rio do esquecimento . Pode ter sido gravado ao mesmo tempo ... mas vem de um lugar diferente, eu acho. Parece que encontrar um velho baú no sótão da casa de alguém com todas essas notas, mapas e desenhos e descrições de ir a um lugar que você não se lembra . É o que eu acho que de qualquer maneira. "

 

 

Para quem aprecia esse petardo, 10 anos ainda é pouco para desbravar todos os rios, todos os becos, a literatura as vezes mórbida de Thom Yorke, a arte de Stanley nunca foi tão cinzenta, os caminhos nunca tiveram tantos nevoeiros, Amnesiac é uma obra única, daquelas sobretudo, ATEMPORAIS.

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