13.6.11

Matéria/ Techno no Brasil

A cena techno no Brasil chegou mais tarde, lá pelo final dos anos 80/início dos anos 90, através de DJs como Zé Roberto Mahr, que na época tocava no Crepúsculo de Cubatão (Rio de Janeiro). Ele também tinha um programa na Rádio Fluminense FM, o Novas Tendências, onde algumas vezes ele tocou algumas faixas de techno, quando esse estilo era praticamente desconhecido por aqui.


No início dos anos 90 o Mercado Mundo Mix (Rio), uma feira de produtos alternativos, começou a usar o techno como trilha sonora dos seus eventos, o que levou muitas pessoas a conhecerem o estilo. Logo em seguida surgiram festas em parques de diversões como a BITCH, no Tivoli Park, e em galpões como Val-Demente, que rolava, entre outros locais, na Fundição Progresso, com DJs que tocavam techno, além de house. Enquanto isso, a boateDr. Smith, no Rio de Janeiro, começou a fazer suas primeiras festas techno. O techno também invadia São Paulo com DJs como Mau Mau e Camilo Rocha. No Rio, o DJ Maurício Lopes inaugurou a festa Oops!, na Guetto, em Botafogo.

Essa festa era frequentada por clubbers e tinha uma atmosfera muito legal, pois o hype do techno ainda não havia contagiado o mainstream e os mauricinhos e as patricinhas ainda não frequentavam festas eletrônicas (que para eles eram festas de gay e drogado).

Também começaram a pipocar ótimas festas como a Hyper Club e o THC. O DJ Ricardinho NS era o residente da festa After, que rolava, entre outros lugares, na Basement, um clube pequeno e abafado na Galeria Alaska, em Copacabana. A festa só vivia lotada, e sempre começava a partir das 4 horas da manhã da madrugada de sábado pro domingo e rolava até o meio-dia. Em São Paulo, surgia o antológico Hell's Club, que também só vivia lotado e as festas também só começavam a partir das 4 horas da manhã. Em 97 foi lançado a coletânea Electronic Brasil, pelo selo do Mercado Mundo Mix. Esse foi um dos primeiros discos de música eletrônica brasileira a ser lançado comercialmente, e reunia músicas do Mau Mau, Habitants, Loop B, Level 202 etc.


Esta foi a época áurea da cena techno no Brasil. Havia realmente uma cena underground, mas a mídia, como sempre, resolveu estragar a festa. Uma novela da Globo tinha uma atriz fazia que fazia o papel de uma clubber totalmente estereotipada, e o senso-comum começou a fazer uma ideia errada dos clubbers.

O jornal O Globolançou uma matéria de capa no Segundo Caderno com o título "Techno - a onda do próximo verão". Muitos clubbers deixaram de frequentar as festas porque elas foram invadidas por playboys e pessoas que não tinham nada a ver. A Oops! acabou, o Hell's Club fechou e a Val-Demente se partiu em duas festas: a Val, que era voltada para o público GLS e ainda tocava techno (infelizmente a festa não durou muito) e a X-Demente, que não toca techno e é frequentada 90% por barbies-carão.


No Rio, a cena estava estagnada, com algumas casas noturnas que de vez em quando aportavam festas techno, como a Phunky Budah, em Ipanema, mas infelizmente essas festas não duraram muito tempo. A luz no fim do túnel surgiu com a abertura da boate Bunker 94, em Copacabana, no lugar onde antes era a boate gay Le Boy. Os clubbers voltaram a ter um espaço alternativo, com festas dedicadas totalmente ao techno como a Cubik,residida pelos DJs Mauricio Lopes e Ricardinho NS (após alguns anos, a Bunker fechou e virou uma filial das Lojas Americanas). Antes mesmo da Bunker abrir, o grupoBUM (Brazilian Underground Movement) começava a organizar festas na Baixada Fluminense e na zona norte do Rio, formada por DJs como Péricles, André Lima etc. Apesar do recente falecimento do seu fundador, oPéricles, o BUM continua na ativa.
Lá pela segunda metade dos anos 90 começaram a surgir as primeiras raves no estado de São Paulo. No Rio, a primeira rave foi a Bunker Rave, em 2000, que rolou naFazenda dos Prazeres, em Vargem Grande.

Também começaram a surgir raves nas areias de Ipanema quase todos os sábados. Atualmente existem várias casas noturnas em São Paulo que tocam techno; também há festas bacanas acontecendo nas principais capitais do país, como Curitiba, Goiânia, Recife, Campinas, Brasília e muitas outras. No Rio são poucas. Infelizmente a cena techno inflou e muitas outras casas noturnas dizem que tocam techno, mas na verdade estão apenas se aproveitando do termo, pois de techno essas festas não têm nada.

Hoje em dia, techno, na concepção de muitas pessoas, é um tipo de música eletrônica comercial, descartável e com apelo pop que toca em rádios FM, uma parada nada a ver com o que a cena techno era originalmente. Mas felizmente ainda existem alguns oásis onde se pode dançar e ouvir Techno, com T maiúsculo, por favor. O maior representante atual do techno no Rio é a festa Underground Resistance, que rola mensalmente na Lapa.

 

 

Matéria em >tranzine

0 comentários: