9.7.10

Crítica/ Charles Mingus

O ano de 1959 foi um divisor de águas para o jazz. Todas as grandes gravações foram lançadas durante este ano, incluindo ‘Kind of Blue’ (Miles Davis), ‘Giant Steps’ (John Coltrane), ‘The Shape of Jazz To Come’ (Ornette Coleman), ‘Time Out’ (Dave Brubeck) e, naturalmente, ‘Mingus Ah Um’, considerado como uma gravação que sinalizou o florescimento e desenvolvimento de Charles Mingus como contrabaixista, compositor e ocasionalmente pianista de jazz. Ele também ficou conhecido pelo seu ativismo contra a injustiça racial, presente no seu país. Em seus anos de aprendizado Mingus lutou para encontrar o seu lugar ao Sol, sempre preocupado com a falta de dinheiro e como negro suportou os ultrajes da época em um país que o considerava um cidadão de segunda categoria. Mingus conviveu com a ignorância e a intolerância que sufocava o seu trabalho e tanto como qualquer outro artista do século passado, sua vida foi a música. E para evitar a pressão comercial e exploração das grandes gravadoras Mingus fundou seu próprio selo em 1952. Mingus é considerado um dos mais importantes compositores e intérpretes de jazz, assim como um pioneiro na técnica do baixo. Era ao mesmo tempo uma enciclopédia e um laboratório do jazz. Quase tão conhecido como a sua música era o seu temperamento que lhe rendeu o apelido de ‘the angry man of jazz’. Os membros de sua banda eram rotineiramente repreendidos, mesmo agredidos fisicamente no palco, quando cometiam erros ou quando não mostravam atitudes apropriadas.
charles mingus thelonious monk charlie parkerMingus tinha o grande maestro Duke Ellington como paradigma. Durante toda a década de 50 ele refinou o seu estilo musical até a exaustão, mas manteve-se incapaz de atrair um público significativo. Devorou a obra de Stravinsky e Schoenberg, bem como de Duke Ellington, Charlie Parker, Thelonious Monk e Gillespie e lentamente sua confiança cresceu.

Mingus foi o primeiro músico de jazz desde Ellington, que poderia competir com compositores clássicos. Um intelectual orgulhoso que publicamente desprezava os hábitos decadentes de muitas estrelas do jazz e até mesmo a atitude bárbara do público de jazz em comparação com o público da música clássica. Em 1955, Mingus foi envolvido em um incidente notório quando tocava com Charlie Parker, Bud Powell e Max Roach. Bud Powell que sofria de alcoolismo e doença mental agravada por tratamentos de eletrochoque, em certa ocasião, sem conseguir tocar ou falar de forma coerente teve de ser ajudado a se retirar do palco. Para exasperação de Mingus, Charlie Parker com um microfone pedia o retorno de Powell. Mingus tomou outro microfone e anunciou à multidão: ‘Senhoras e senhores, por favor, não me associem com nada disto. Este não é o jazz. E essas são pessoas doentes’. Cerca de uma semana depois Charlie Parker morreu, após anos de abuso de álcool e drogas. Mingus considerava Parker um gênio e inovador na história do jazz, tanto que suas composições e improvisações o inspiraram e o influenciaram, mas Mingus tinha uma relação de amor e ódio com o legado de Parker por causa de seus hábitos destrutivos.
charles mingusCharles Mingus Jr., nasceu no Arizona. Sua mãe era descendente de chineses e ingleses, enquanto os registros históricos indicam que seu pai era filho ilegítimo de um colono negro e de uma das netas de seu empregador sueco.

Criado em Los Angeles, Charles Mingus, também era um espécime raro em um mundo do jazz que era cada vez mais centrado em torno de Nova York. Um menino prodígio que compôs ‘Half-Mast Inhibition’ (1941) quando tinha apenas 19 anos. Tocou com Louis Armstrong e Lionel Hampton, mas não tinha nada em comum com a era do swing. Indo para Nova York, antes de alcançar o reconhecimento comercial como maestro, ele tocou com Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell e Max Roach, imortalizado no ‘Jazz at Nassey Hall’ em 1953. Sua primeira grande conquista foi a gravação de ‘Pithecanthropus Erectus’ (1956). Gravado por um quinteto o destaque do álbum de quatro movimentos é o ‘Pithecanthropus Erectus’ que influenciou o nascimento do free jazz, mas o álbum também contém ‘Love Chant’, uma suite enigmática e uma versão de oito minutos de ‘A Foggy Day’ composição de Gershwin que se transformou em uma mini-sinfonia de ruídos da cidade, todos simulados pelos instrumentos.
Dezenas de músicos passaram por suas bandas. Na criação de suas bandas, Mingus exigia não só as habilidades dos músicos disponíveis, mas também de suas personalidades. Mingus foi também influente e criativo como um líder de banda, ele se esforçava para criar uma música original a ser tocada por músicos originais. Lidando com profundos problemas psicológicos, Mingus abandonou a cena musical nos anos 60 para se concentrar em escrever uma autobiografia.

Em 1968 ele foi despejado de seu apartamento em Nova York, e muito de sua música escrita foi perdida nesse episódio. Descobriu que sofria de esclerose lateral amiotrófica, popularmente conhecida como doença de Lou Gehrig, uma degeneração da musculatura até que na década de 70 ele não pode mais tocar o seu instrumento. Limitado a uma cadeira de rodas e incapaz até para tocar piano, Mingus continuou compondo e supervisionado gravações antes da sua morte. Morreu aos 56 anos em Cuernavaca, México, onde ele tinha viajado para tratamento e convalescença. Suas cinzas foram jogadas no rio Ganges. Ainda assim, a música de Mingus viveu. Pouco depois de sua morte, sua viúva Sue Mingus formou a ‘Mingus Big Band’, premiada e considerada como uma das mais importantes ‘big bands’ de jazz existentes, para manter viva a obra de Mingus. Em 1989, dez anos após sua morte, uma estréia mundial foi realizada no ‘Lincoln Center’ em Nova York para sua composição ‘Epitaph’, uma obra-prima que foi descoberta após a sua morte.

 

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